“O Primeiro Dia da Minha Vida” oferece bela reflexão sobre o problema do suicídio
Fonte: Aguinaldo Gabarrão – DiárioZonaNorte
O que é necessário para curar ou aplacar a dor de quem não quer mais viver e, dessa maneira evitar que ela pratique o suicídio? A resposta não é fácil, mas provavelmente passa por algo que muitas vezes não se considera: quem tenta extinguir a vida, quer matar o mal que a aflige.
Portanto, querer livrar-se da dor insuportável, não significa desejo expresso de não querer viver. Mas como agir quando alguém está na eminência deste gesto? O filme “O Primeiro Dia da Minha Vida” oferece duas poderosas palavras para enfrentar essa situação terrível: acolhimento e compreensão.
Vidas que se cruzam
Quatro pessoas estão decididas a dar um fim em suas vidas: Emília, ex-atleta na cadeira de rodas; Daniele, um influencer que sofre bullying; Arianna, uma policial que sofre uma dor insuportável; e Napoleone, um coach de auto ajuda totalmente desmotivado. Nesse instante aparece um misterioso homem. Ele oferece a todos uma semana de vida para que reflitam sobre a importância de suas existências para outras pessoas.
A ideia não é em absoluto original. No filme “A Felicidade Não Se Compra” (1946), dirigido pelo ótimo Frank Capra, há um anjo torto, ansioso para conquistar suas asas, que recebe a missão de evitar que a personagem George Bailey pratique o suicídio, apresentando a ele o que viria a ser o futuro de outras pessoas, se ele não tivesse existido. É um grande filme.
Mas a comparação fica neste ponto, porque o diretor Paolo Genovese, apresenta um homem comum – interpretado pelo ótimo Toni Servillo (A Grande Beleza), que cultiva também os seus dilemas pessoais. Ele é o anfitrião provocador, sem ser invasivo. É afetuoso, mas não permissivo.
Seu papel é de um mediador que apresenta situações aos integrantes do seleto grupo, com o objetivo de rememorar particularidades da vida de cada um, e auxiliá-los a elaborar os sentimentos que poderão ajudá-los a superar seus traumas.
Realismo mágico x realidade
Na medida em que o processo se acentua, é perceptível identificar a formação de elos de fraternidade entre os membros daquele grupo, algo que se pode identificar como essencial no trabalho terapêutico de reconquista da saúde mental.
A atmosfera de realismo mágico, onde elementos fantásticos ou aparentemente absurdos dialogam com a realidade, é outro aspecto importante para demarcar a transcendência da história, sem que isso se apegue a qualquer religião ou filosofia espiritualista.
Longe de ser um filme melodramático, o bom roteiro elaborado a partir do livro “Perfeito Desconhecidos”, escrito pelo diretor e roteirizado por ele e mais três profissionais, entrega uma história emocionante, divertida na medida certa e que não tem medo de oferecer ao público a esperança.