Por Nathalia Jesus – Adoro Cinema

Chadwick Boseman, Riz Ahmed, Steven Yeun, Viola Davis e Chloé Zhao fizeram história entre os indicados nas categorias principais, consolidando as “primeiras vezes” mais inclusivas da premiação.

A lista de indicados ao Oscar 2021 foi liberada hoje e trouxe muitas surpresas nas categorias principais. Pela primeira vez em 93 edições, duas mulheres são indicadas ao prêmio de melhor direção, além da numerosa quantidade de cineastas e atores não-brancos disputando os maiores títulos da noite.

Após a repercussão do movimento #OscarSoWhite em 2016, que denunciava a ausência de pessoas de cor entre as indicações da Academia, e a falta de diversidade entre os selecionados para o Globo de Ouro 2021, a maior premiação de cinema do mundo parece ter avançado alguns — ainda poucos — passos rumo a um futuro mais inclusivo.

Este ano, Steven Yeun, protagonista de Minari: Em Busca da Felicidade, tornou-se o primeiro asiático-americano a ser nomeado como “Melhor Ator”, e Yuh-Jung Yoon se consagrou como a pioneira coreana na disputa do prêmio de “Melhor Atriz Coadjuvante”. Outra histórica indicação foi a de Riz Ahmed, primeiro artista de origem paquistanesa na maior categoria masculina de atuação que, junto com Chadwick Boseman, formam o maior elenco de indicações não-brancas na competição em uma mesma categoria.

Ao longo da surpreendente lista, as nomeações de Andra Day, Viola Davis, Daniel Kaluuya, Leslie Odom Jr. e Lakeith Stanfield marcam um importante momento na premiação que, nas últimas 92 edições de existência, só premiou 44 artistas negros em todos esses anos. Além disso, neste grande momento de primeiras vezes no Oscar, Judas e o Messias Negro é o primeiro filme com equipe de produção totalmente negra indicado ao maior prêmio da noite, assim como Chloé Zhao entra para a história por ser a mulher pioneira ao receber quatro nomeações no mesmo ano (Filme, Edição, Roteiro e Direção). E afinal, o que está por trás dessas mudanças?

POLÍTICAS DE INCLUSÃO E DIVERSIDADE

Em setembro do ano passado, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anunciou os novos requisitos para a indicação na categoria “Melhor Filme”. A iniciativa tem como objetivo promover a diversidade e inclusão em filmes, para que produções estreladas, dirigidas ou produzidas por grupos minoritários fossem elegíveis ao maior prêmio da noite.

As novas diretrizes foram organizadas em quatro etapas: Representatividade de temas e narrativas, liderança criativa e equipe de projeto, acesso a oportunidades na indústria e desenvolvimento de público. As medidas visam a inserção de pessoas pertencentes a grupos étnicos, raciais, de gênero e sexualidade sub-representados, para que todos estes tenham oportunidade de atuar na frente ou por trás das câmeras e receber o devido reconhecimento por estes trabalhos.

Após a divulgação do edital, o presidente da Academia, David Rubin, declarou: “A abertura deve se alargar para refletir nossa população global diversificada tanto na criação de filmes quanto nas audiências que se conectam com eles. A Academia está empenhada em desempenhar um papel vital em ajudar a tornar isso uma realidade.”

REPARAÇÃO HISTÓRICA EM HOLLYWOOD

Em uma indústria majoritariamente branca, mudanças como essa representam um avanço em direção a uma Hollywood mais diversificada e, consequentemente, mais próxima e parecida com a população mundial, que figura tanto entre pessoas consumidoras como criadoras de conteúdos audiovisuais — e claro, não é formada somente por pessoas brancas.

Desde a primeira edição do Oscar, em 1929, até 2016, que se consolidou como o ano de maior inconformidade com a falta de diversidade e equidade entre artistas brancos e de cor, ocorreram 51 cerimônias as quais nenhuma pessoa negra tinha sido indicada a quaisquer categorias. Esse número significativo representou mais da metade da história da premiação e foi apenas a cereja do bolo após uma edição completamente dominada por cineastas e atores brancos.

Apesar de ainda haver muito caminho a ser percorrido, a Academia acertou em reconhecer o erro e buscar soluções efetivas para que produções realizadas por grupos considerados minoritários sejam reconhecidas e tenham seus valores transmitidos através de uma plataforma de alto alcance.

A lista de indicados em 2021 é apenas uma minúscula parcela da resolução do problema e de toda a história que o Oscar ainda precisa reparar para remediar todos os anos em que artistas de cor foram esnobados pela premiação. Dar visibilidade a narrativas tais como as de pessoas coreanas lutando para conquistar seu espaço no ilusório sonho americano ou a de mulheres negras reivindicando sua autoridade em uma indústria dominada por homens brancos é o mínimo e significa apenas o começo.

Além disso, torna-se importante lembrar que a mudança é uma atitude coletiva e deve ser incentivada não apenas pelas premiações, mas também por grandes estúdios. A partir da implantação de diretrizes que visam mais inclusão nas etapas produtivas, na escalação de elencos e cineastas, e nas narrativas contadas nas telonas, Hollywood não apenas beneficia a si mesmo em lucratividade e geração de empregos, mas também oferece oportunidades para que a diversidade vença a luta contra o racismo, a xenofobia e outras opressões estruturais que apagaram e silenciaram sua existência durante toda a história.

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