Fonte: Letícia Alassë – Cine Pop

Falar de cinema dentro de um filme é um fascínio para os amantes da sétima arte. Em estreia na mostra competitiva do Festival de Cannes 2021, a diretora Mia Hansen-Løve (O que Está por Vir) executa com proeza e certa melancolia uma homenagem ao cineasta sueco Ingmar Bergman, falecido em 2007. Ela nos leva em excursão à ilha de Fårö, em Gotlands län, na Suécia, onde Bergman passou seus últimos dias, escreveu seus roteiros e rodou muitas de suas obras.

Prolífero artista, Bergman deixo um legado de mais de 50 filmes, em que tratava de temas, desde a metafísica (O Sétimo Selo, 1957), até a introspecção psicológica (Persona,1966) e análise da vida de casal (Cenas de um Casamento, 1974), além da reflexão familiar (Fanny & Alexander, 1982). Assim, todos esses elementos são apresentados no roteiro de Mia Hansen-Løve a partir da curiosidade do casal de cineastas Chris (Vicky Krieps) e Tony (Tim Roth), o qual parte em visita à ilha de Fårö, em busca de conhecimento e inspiração.

Ele é um famoso diretor e especialista na obra do autor sueco, já ela é uma roteirista impregnada com a indecisão de qual final dar para o seu atual trabalho. Além do papel de escritora, ela reflete sobre o seu ofício de mãe, já que não para de pensar na filha pequena deixada alguns dias longe de seus cuidados para focar no trabalho. Desse modo, a diretora francesa projeta uma metalinguagem para falar do processo de criação, influência e admiração no cinema.

Progenitor de nove crianças de seis mulheres diferentes, Ingmar Bergman foi um pai ausente e alguns dos diálogos do filme processam a vida pessoal atabalhoada do diretor em evidência da enorme quantidade de obras realizadas. Em busca de um lirismo para sua aventura “descortinando Bergman”, Chris conhece o jovem cineasta e pesquisador Hampus (Hampus Nordenson), responsável por lhe apresentar curiosidades da ilha e dos suecos com as quais ela começa a compor o seu roteiro.

Um segundo filme entra em cena com os personagens Amy (Mia Wasikowska) e Joseph (Anders Danielsen Lie). Eles se reencontram depois de um longo tempo para o casamento de um amigo em comum na ilha de Fårö. Durante três dias, Amy tem a chance de reviver os sentimentos alojados no seu peito, enquanto Joseph mostra-se hesitante com a aproximação da jovem. A fábula de Amy e Joseph ganha contornos tão vívidos e febris que por um momento, a escritora e o diretor da narrativa principal tornam-se secundários

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