Dramédia com Tom Hanks foi feito sob medida para arrancar lágrimas

Fonte: Nico Garófalo – Omelete

Tirando algumas exceções, filmes protagonizados por Tom Hanks costumam vir atrelados a uma promessa: a de que o astro viverá um homem simpático e de fácil identificação do público cuja mera presença torna a vida daqueles à sua volta melhor. De Splash: Uma Sereia em Minha Vida a Finch, o nome do ator é praticamente sinônimo de segurança para o público, que vê nele a garantia de uma história tocante que arrancará sorrisos e lágrimas. Para o bem e para o mal, O Pior Vizinho do Mundo, adaptação do livro Um Homem Chamado Ove, de Frederik Backman, e do elogiado filme sueco de 2015, segue essa já conhecida fórmula, embora tente fazê-lo de um jeito diferente.

Aqui, Hanks não vive um bondoso imigrante preso em um aeroporto ou um heróico piloto que evita uma catástrofe aérea com uma manobra arriscada, mas um viúvo mal-humorado, suicida e cheio de manias que incomodam os moradores do condomínio que ele coordena. Seu personagem, Otto, no entanto, descobre uma nova visão de vida quando o jovem casal Marisol (Mariana Treviño) e Tommy (Manuel Garcia-Rulfo) se muda para a casa da frente com suas duas filhas pequenas. O senhor rabugento cria um laço de amizade inesperado com a vizinha e sua família e passa a descobrir novas formas de lidar com seu luto.

O Pior Vizinho do Mundo, dirigido por Marc Forster (Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível), é básico em muitos sentidos. Por mais que Otto insista em se isolar, existe na escalação de Hanks a certeza de que, antes mesmo do terceiro ato, ele abrirá suas portas para seus vizinhos e antigos amigos e se tornará o homem carinhoso que o público tanto ama. E, por mais que esse destino seja previsível até para quem não teve o menor contato com a campanha de divulgação do longa, a forma como Otto vai de “velho insuportável” a “tiozão da galera” guarda caminhos emocionantes, todos pautados pela influência de sua esposa (Rachel Keller), onipresente mesmo após a morte.

Por mais que inicialmente pareça impossível entender por que tantas pessoas (e um gato) tentam manter uma amizade próxima com Otto, Forster cria relações críveis entre seus personagens, em um ritmo que, apesar de dinâmico, não apressa seus arcos. Focado mais em desenvolver seus personagens emocionalmente do que em apenas levá-los de um ponto A a um ponto B, o cineasta dispensa diálogos expositivos, substituindo-os por interações espirituosas que, com a ajuda de flashbacks bem alocados, formam uma narrativa engajante e fácil de se conectar.

Hanks e seu elenco de apoio entregam atuações seguras como a pequena comunidade suburbana que luta contra a expansão agressiva de uma construtora, mas é o roteiro de David Magee (A Escola do Bem e do Mal) que carrega o peso emocional de O Pior Vizinho do Mundo. Sem pregar uma forma certa de se sentir o luto ou de superá-lo, o script busca explorar formas de manter aqueles que perdemos em nossas vidas. Essa ideia, já clichê em filmes que tratam de perdas familiares repentinas, é desenvolvida de forma delicada por Magee e Forster, que aproveitam o talento cômico e dramático de seu elenco para dar ao público uma experiência catártica digna de uma intensa sessão de terapia.

Assim como sua versão sueca, O Pior Vizinho do Mundo atinge seu auge quando encontra humor em seus momentos mais trágicos. Em ocasiões distintas, o filme mostra Otto tentando tirar a própria vida, falhando comicamente todas as vezes. Por mais desconfortável que seja ver o protagonista à beira do suicídio, a forma como essas sequências são finalizadas imprime um otimismo encantador no longa.

Ainda que possa parecer apelativo pelos mais cínicos, O Pior Vizinho do Mundo é uma experiência muito mais emocional do que racional e um de seus principais méritos é nunca tentar parecer mais “inteligente” do que realmente é. Seja através do carinho repentino que Marisol e sua família criam por Otto ou até pela forma simplista com que alguns dos principais conflitos do longa se resolvem, Forster e Magee entendem que a história original de Backman tem como objetivo principal confortar o público e não confrontá-lo com uma fórmula mágica de superação.

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